Julieta Está Morta - pt. 1

-Torrancy, com y?
-Torrance, como a cidade.
-Ah, diferente, eu gosto - sorri - Bom, é um prazer, Torrance Como A Cidade.
-Você é...
Eu afastei minha jaqueta, deixando exposto um crachá, bem, um adesivo colado em mim, que tem escrito: "Oi, meu nome é Emocionalmente Instável Jim". Eu tenho que usar essa coisa todos os dias. Torrance voltou seus olhos de pálpebras pesadas para mim, e eles pareceram sorrir com ela.
-O prazer é meu, Emocionalmente Instável Jim.
Quando eu a vi pela primeira vez não foi como se eu olhasse uma completa desconhecida ou uma figurante de outra cena que eu atuava. Foi como se eu visse sua alma. Eu conhecia cada gesto, seu jeito de gesticular as palavras. Ela parafraseou uma frase minha quando eu a deixei, nas palavras dela, indignada. Como ela sabia que eu detestava isso? Então ela riu diante do descontrole que eu tinha na voz enquanto eu ria, brincava com ela e comigo mesmo sobre a liberdade que ela tomara tão rápido.
[...]

Sobre nós dois e nossas vidas separadas

Mas talvez a vida seja só isso mesmo, talvez seja melhor só seguir com ela. Esquecer nossos castelos da areia na praia que a gente inventou, sabíamos que as ondas os levariam. Mas não admitimos que o plexo solar, a maresia, era tudo um cenário fictício. Aquele mar que insistíamos em não levar com tanta seriedade, tinha suas ressacas, tsunamis, tempestades, redemoinhos, e um dia, sem nem ver ou sentir, ele podia nos levar. E ele te levou. E estou arrasada, corrompida, sem entender nada e cheia de coisas que não me pertencem. Em um lugar que não é o meu, acompanhada de pessoas que não chegam a ser minhas. Não como você foi, eu nunca permitirei que mais ninguém seja.