Querido Deus,

Li em um livro que podemos, devemos, sofrer de vez em quando. Que é por isso que estamos aqui, pra aprender com nossa dor. Mas ainda acredito que me ouve quando rezo. Sei que sim.
Deus, essa é a parte que eu agradeço, porque eu era uma flor sem raízes, livre de correntes, livre de princípios, alheia a qualquer obediência. Mesmo a que me faria bem. Obcecada por liberdade, deixei minha terra, deixei minhas irmãs, acreditando que eu poderia partir, que poderia alcançar o longe. Que o desafio era ousar ser diferente, e contrariar qualquer regra e instinto de sobrevivência. Meu juízo deixei nas raízes, que já não eram mais tão minhas. Selvagem, eu acreditei em mim mesma e tive fé na minha busca até agora. Mas eu não teria como achar oque eu queria, eu não sabia aonde encontrar. Não tinha como saber. O mundo é grande demais pra uma flor sem raízes. Estava perdida. A felicidade não estava lá fora, não estava longe, e não está agora na minha mãe terra que eu deixei chorando por mim. A felicidade está nas minhas pétalas tão comuns de flor do campo, está nesse miolo mole que eu sempre achei que não me faria falta. Está nas minhas folhas murchas que a falta de água me causou.  Está no amor próprio, na autossuficiência, na humildade de aceitar mudanças internas. Em admitir os erros, em se arrepender, em chorar, em aprender e não chorar mais por isso. Em abrir um sorriso dormindo (quando eu nasci meu pai disse que quando isso acontecesse o mundo todo ficaria mais lindo. Eu achava que era só amor paterno excessivo e sua obsessão por se tornar um escritor. Só a tendência em fazer poesia. Mas ele só disse a verdade. Quando eu me tornasse feliz, o mundo todo seria mais bonito, pra mim, quero tanto abraçá-lo por ter me dado a resposta da sobrevivência). Segundo Buda, você é o que pensa, e o Senhor me ensinou que eu posso controlar meus pensamentos. Que posso me vigiar, e que quando as minhas tendências pecadoras de humana parecessem mais fortes do que eu, eu posso orar, e mostrará-me de novo como ser o que preciso.