Você espera que todos sejam reflexos de você, como se já fosse perfeito e não tivesse nada a acrescentar. Seu ego enche a rua e parece que não cabe mais nada, por que em uma coisa você está certo: você não tem nada a acrescentar.
Somos pessoas custosas. Eu sei, devo ser o carro mal estacionado da calçada de alguém, também. Sabe, Dé, minhas palavras são duras mas meus olhos me desmentem. Eu passei sete meses olhando pra baixo, me limitando a olhar pros meus próprios pés, mas tomei tantos caminhos errados que eu aprendi. Sete meses - desde que eu te conheci. Só queria dizer obrigada, porque você tratou de mim ainda que não sabendo disso.
Tu não ergueu meu queixo, não me olhou nos olhos, não disse aquele adeus que eu tanto precisava, porque você não se importava em ir. Mas você me deu a mão. Procurou a minha, me levou pra essas ruas decadentes e mesmo assim eu fiz tudo que você pediu de olhos fechados. Eu agradeceria um buquê de Oleandro com um sorriso no rosto, desde que fosse seu, e sabe o que é pior? Você sabe disso.
Liguei pra você e disse obrigada. Gargalhadas do outro lado da linha. Nós sabemos que vamos voltar.
Eu sou mais do que isso porque não passa um dia que eu não tente compreender quem eu realmente sou. Quem me dera poder abrir uma enquete online pra todo mundo que me conhece pedindo notas - carisma, sex-appeal, versatilidade, oque for -, calcular a porcentagem daquilo que me falaram como se eu pudesse ser corrigida como um bug. Eu não posso. Eu não quero. Eu sou mais do que isso.
Eu era a garota mais bonita do ônibus, e você me disse mais tarde, com todas as letras, que não ficou comigo porque eu não tinha "aquela coisa especial que atrai as pessoas". Até hoje espero que você estivesse falando de simpatia e não coisas mais profundas que rejeitem a minha ideia sobre mim.
Quer dizer, eu sei que não tenho muito jeito - nem com estranhos nem com meus próprios parentes, e que eu acabo sempre reclamando de algum problema, sei que minha voz não é clara e minhas intenções não são firmes, mas será que eu devo ser definida pelo que eu passo de impressão às outras pessoas? Não, não, aqui dentro tem um cérebro e ele não para de pensar nunca. Tem um milhão de coisas que faço ou que pretendo fazer um dia e ninguém sabe e nem precisa.
A esse ponto eu imagino que nasci pra ser uma pessoa, enfim, solitária. Os meus melhores amigos, converso sempre, mas não há nenhum que não tenha um assunto inviável de se falar. Tem gente que eu só fico de bobeira, tem gente que eu rasgo o verbo apenas em conversas profundas, e tem gente na qual só o silêncio basta - mas é claro que eu sou mais do que isso. É impossível achar alguém que te compreenda na sua totalidade.
Talvez eu não seja uma vitrine ambulante do que eu levo pra cama e pra debaixo do travesseiro, mas é aí é que tá, baby: a beleza é subjetiva e eu sou praticamente um pedaço de arte conceitual.
Dentro de mim não há um sentimento ébrio que faça eu continuar indo atrás de você como eu fazia. Diria que das calamidades, essa pode ser a mais útil. Sei que posso aprender a conduzir minha aura débil para algo bom.

Não precisar é diferente de não querer

Me identifico com a dor e sou contadora de letargias. Deixe-me justificar, foi a vida me fez assim. Não adianta, não assumirei parcelas de culpa que não me pertencem pois ainda não preciso de mais introduções desnecessárias.
A tristeza é como uma estenose: você aumenta até a obstrução. Amar talvez seja se distanciar pra não ter mais que mentir.
Meu coração está vencido e minha mão, em carne viva. Às vezes lavo o cabelo até me ferir, em geral faço coisas que não tem muito sentido, em momentos de menor paralisia.
Tenho que admitir que é mais confortável sem você, embora infinitamente mais fútil. Sabe, eu não aguentava mais a minha incompetência em te fazer feliz. Mesmo aquele seu pior hábito, por mais que eu tentasse, não te impedia. Enquanto você se arrebentava de dor, eu ficava ali, sem saber oque dizer e sabendo que tinha alguém que sabia, e você parecia perder mais a mais a vontade de contar comigo.
Eu prometi que ficaria tudo bem, não prometi?

Instabilidade é um privilégio

Nada se compararia a ver isso pessoalmente
E se eu disser que uma vez dito olá eu não temo casualmente dizer adeus, e que é ponderado o respeito ao limite de tudo aquilo que eu escolhi deixar passar?
Não sou uma obcecada por pessoas e coisas na maioria do tempo, só há dias que eu sou inatingível de tão aplicada ao que eu quero ver e a somente isso.
O conhecimento breve das mais possíveis coisas que se pode querer é um lema grande demais pra tatuar na pele mas posso dizer que tenho isso bem definido no meu dia-a-dia. Mesmo que a instabilidade do uso do tempo não seja segura, saiba que há certa sensatez na superficialidade; a minha dependência está na informação daquilo que existe e eu não posso ignorar. Se eu exploro um sentimento por alguém até sentir agonia, é por experiência e estudo. Eu sou apática assim. Não se pode ter tudo.
Mas digo que se você for vigilante comigo, vai notar que não sou apenas isso.